24 de janeiro de 2006

Cheguei bem perto, junto de um madeiro,
À sombra deste — rosas espalhadas.
Nos ares um perfume virginal,
Essência que encharcava as mãos cerradas
De menina.

Era um anjo na flor da juventude
Que aos céus na tenra idade regressou.
Alvo lírio que à vida despontava
Flor bendita que um dia Deus chamou
De menina.

Cheguei mais perto, ergui a fronte aos céus,
Na terra, meu joelho recostava,
Junto ao peito as mãos frias, mas unidas,
Naquela triste manhã eu rezava.
Assim, menina:

“Senhor, meu Deus! Um anjo vos procura,
Bem pouco aos vossos olhos estará
Lançai neste arcanjo o vosso amor,
Esteio que os seus entes erguerá.

Vós que sois justo, vós que sois clemente,
Perdoai os que choram pela morte
Rogai conforto, amparo e proteção
Aos que choram tal perda muito forte.

Senhor, meu Deus, meu guia e meu pastor,
Olhai esta menina com carinho,
Guardai para ela um bom lugar
Sagrada seja, à luz de seu caminho.

Que o pranto seja breve em nossos olhos,
Levai, Senhor, convosco o triste leito,
Guardai também convosco o nosso anjinho
Que clama a reclinar-se em vosso peito.

Pela brisa que sopra nas montanhas,
Peço, enfim, meu Senhor de luz divina,
Como um cativo de vossa vontade,
Abençoai esta alma de menina,
Amém!”

Foi quando um fogo despontou nos céus,
Crepitando o carvalho do madeiro,
Ateando fogo ao leito solitário,
Deixando iluminado o seu cruzeiro.

Coloquei-me de pé, e então notei
Que um milagre entalhara aquela cruz,
Ainda em brasa, dizia a inscrição
No brilho incandescente de uma luz:
“AQUI JAZ, MAS NÃO PARE SEMPRE!”

0 comentários :