O
historiador Eric Hobsbawm se referiu ao século passado como a era dos extremos, o breve século XX,
dado o impressionante número de fatos e transformações importantes que
ocorreram no mundo dentro de um único século. Utilizo o mesmo raciocínio quando
penso nos 75 anos de Caetano Veloso. Não sou contemporâneo de sua infância ou
juventude, mas, na condição de pesquisador e biógrafo, tive o privilégio de
conhecer em detalhes cada ano de sua vida. Assim pude comprovar que os 75 anos
desse artista parecem pouco quando pensamos em tudo que ele já produziu no
campo da arte.
Minha
história com Caetano Veloso começou em 1997, quando iniciei, com meu amigo
Marcio Nolasco, uma ambiciosa pesquisa que seria a base para escrevermos uma
biografia verdadeiramente abrangente desse artista. Convivemos com seus irmãos,
amigos, amores, conhecemos sua cidade, sua gente, sua casa, seus filhos.
Estivemos com ele em quatro ocasiões, mas a primeira delas foi, para mim, a
mais emblemática. Em 2000, a cantora Cybele, do Quarteto em Cy, nos
apresentou a ele nos bastidores do show A Arte do Encontro, em homenagem a Vinícius de Moraes. Apertei a
mão dele e disse: Caetano, temos
uma forte ligação com você, mas você não sabe!. Ao que ele me respondeu de
pronto: Pois então quero saber!
Essa
curiosidade insaciável pelo novo, essa necessidade de experimentar, de
interagir, de se entregar sem limites, sem fronteiras, é, sem dúvida, a
característica de Caetano que mais me impressiona. É também aquela que o torna
um artista singular, e o mais completo de sua geração. Caetano Veloso se
reinventa o tempo inteiro, não tem preconceitos em relação a qualquer
manifestação artística, absorve constantemente o que está a sua volta, criando
e recriando, com seu jeito particular de ver o mundo. O Tropicalismo terminou,
mas Caetano nunca deixou de ser Tropicalista. Por todos os motivos do
mundo, precisamos celebrar os “breves” 75 anos de Caetano Veloso.
Carlos Eduardo Drummond
Texto
publicado na Revista Universo FNAC – Edição no 26 – Agosto-Setembro de
2017.