I
Raiar do dia neste imenso vale,
Onde as crateras que escavadas são
Guardam segredos de infinitos sonhos,
No barro sujo que recobre o chão.
O sol aos poucos vai dourando o vale,
Que em pouco tempo já estará fervendo,
Legiões de homens, como barros, sujos,
Pelas escadas estarão descendo.
Começa, então, o formigueiro humano,
Milhares deles escavando a terra,
Outros milhares carregando sacos
Cheios de pedras vão dar nome à Serra.
Febris do ouro vão gastando as forças,
E toneladas de barrenta lama,
Com sacrifício nos lanhados ombros
São carregadas e ninguém reclama.
Porque é mais forte o desejar riquezas,
E a sede intensa de encontrar o pó,
Dourados sonhos que serão vividos
Na paciência do incansável Jô.
Sê paciente e encontrarás a luz
Que tanto esperas neste chão brilhar,
Inclina a fronte, ó garimpeiro astuto,
Aos céus que deves vez por outra orar.
II
Eu tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
Tenho um sonho muito antigo
De rico poder ficar,
Quero sair desta Serra
Com dinheiro pra gastar.
Hoje sou pobre e sozinho,
Vivo só pra trabalhar,
Carrego terra e entulho
Nos ombros, sem reclamar.
Sonho amores e ilusões,
E à luz do saudoso lar,
Deixei mulher, sete filhos,
Todos sete pra criar.
Mas tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
No garimpo a vida é dura,
Pode até gente matar,
Vi garimpeiro bravio
Lá do morro despencar.
Vi outro dia um amigo
Desesperado a gritar,
Tinha uma faca no peito,
Outro veio lhe roubar.
Sei que a vida aqui é dura,
Peço a Deus pra me ajudar,
Saio daqui milionário,
Se Deus me mostra onde está.
Serve o grama ou a pepita
Se perto de mim brilhar,
Rezo apenas pra ser ouro,
E prometo não contar.
Pois tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
III
Movidos pelo sonho do El Dourado,
Partem cheios de esperança.
Nos olhos o desejo insaciável,
Na inocência de criança.
Deixam serras, campinas, belos campos,
Na ilusão de uma pepita.
Largam mulheres, filhos, famílias,
E vão comer de marmita.
Deixam o verde, ar puro e natureza,
No seio de suas terras,
Aqui comem poeira e bebem barro
Tirados da própria Serra.
Muitos morrem sem mesmo achar o ouro.
Outros tantos vivem anos
Até chorar na dor arrependidos,
De um dia serem ufanos.
Outros acidentados e infelizes
Porque hoje são paralíticos,
E ainda um grande número de tristes
Porque são hoje raquíticos.
IV
Hoje é dia de garimpo,
É dia de deixar limpo,
Os amuletos da sorte.
Dou brilho nas ferraduras,
E rezando pras alturas
Desafio a própria morte.
Carrego pedra e entulho,
Vendo depois com orgulho
O outro que eu encontrar.
Volto correndo pra casa,
Nos bolsos, dinheiro vaza,
Vaza, vaza... Sem parar.
Aqui não tem natureza,
Muitos sonhos de riqueza
É o que tu encontras aqui,
Poeira pra todo lado,
Homem com dente dourado,
Quando um deles te sorri.
A noite aqui é sombria,
Ao soprar da ventania,
Vem poeira e também medo.
Se eu encontro o pó dourado,
Posso, à noite, ser roubado,
Se não guardá-lo em segredo.
De dia, o sol escaldante,
Nessa cratera gigante,
Deita seus raios ferventes.
Entre um gole e outro d’água,
Punge o peito em dura mágoa,
Na saudade dos parentes.
Sou garimpeiro, sou forte,
Desafio a própria morte,
Aqui na Serra Pelada.
Com vinte e quatro quilates,
Mercedes, Mansões e iates,
E a patroa é conquistada.
V
O céu já dourando ao sol do poente
Avisa ao garimpo que o dia acabou
De alma cansada e corpo doente
O bom garimpeiro mais rico ficou.
Poeira nos olhos e barro no rosto
Mas bem escondido seu sonho dourado.
Caindo a noitinha, o sol já está posto,
E o bom garimpeiro foi recompensado.
Milhares de vidas retiram seus corpos,
Da imensa cratera que ali se formou,
Imundo qual fosse um chiqueiro de porcos
O grande garimpo mais fundo ficou.
De dia — um inferno; à noite — sem vida.
No entanto escondido nos bolsos do chão,
O áureo motivo de tanta corrida
O áureo motivo de tanta ilusão.
À noite, na esteira, rezando um Pai Nosso,
O bom garimpeiro agradece ao Senhor,
“Meu pai, sou bom filho, pois faço o que posso
Pra ter nos meus lábios palavras de amor.”
“Senhor, agradeço esta luz tão bendita
Que hoje perdoa o mal que causei
Também agradeço por essa pepita
Que suja de lama no barro encontrei.”
A paz ora reina no inferno dourado,
Cessando na imensa cratera os trabalhos,
Medonho silêncio vislumbra pasmado
Que o grande garimpo foi feito em retalhos.
Exausto, na esteira, dormindo ao luar,
Depois de ingerida uma boa cachaça,
O ouro nos sonhos começa a brilhar,
Pois sonhos não custam... são sempre de graça...
Dorme, garimpeiro! Dorme...
Raiar do dia neste imenso vale,
Onde as crateras que escavadas são
Guardam segredos de infinitos sonhos,
No barro sujo que recobre o chão.
O sol aos poucos vai dourando o vale,
Que em pouco tempo já estará fervendo,
Legiões de homens, como barros, sujos,
Pelas escadas estarão descendo.
Começa, então, o formigueiro humano,
Milhares deles escavando a terra,
Outros milhares carregando sacos
Cheios de pedras vão dar nome à Serra.
Febris do ouro vão gastando as forças,
E toneladas de barrenta lama,
Com sacrifício nos lanhados ombros
São carregadas e ninguém reclama.
Porque é mais forte o desejar riquezas,
E a sede intensa de encontrar o pó,
Dourados sonhos que serão vividos
Na paciência do incansável Jô.
Sê paciente e encontrarás a luz
Que tanto esperas neste chão brilhar,
Inclina a fronte, ó garimpeiro astuto,
Aos céus que deves vez por outra orar.
II
Eu tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
Tenho um sonho muito antigo
De rico poder ficar,
Quero sair desta Serra
Com dinheiro pra gastar.
Hoje sou pobre e sozinho,
Vivo só pra trabalhar,
Carrego terra e entulho
Nos ombros, sem reclamar.
Sonho amores e ilusões,
E à luz do saudoso lar,
Deixei mulher, sete filhos,
Todos sete pra criar.
Mas tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
No garimpo a vida é dura,
Pode até gente matar,
Vi garimpeiro bravio
Lá do morro despencar.
Vi outro dia um amigo
Desesperado a gritar,
Tinha uma faca no peito,
Outro veio lhe roubar.
Sei que a vida aqui é dura,
Peço a Deus pra me ajudar,
Saio daqui milionário,
Se Deus me mostra onde está.
Serve o grama ou a pepita
Se perto de mim brilhar,
Rezo apenas pra ser ouro,
E prometo não contar.
Pois tenho o sol como amigo,
Poeira pra respirar,
Sou garimpeiro e sou forte,
Quero escavar e escavar...
III
Movidos pelo sonho do El Dourado,
Partem cheios de esperança.
Nos olhos o desejo insaciável,
Na inocência de criança.
Deixam serras, campinas, belos campos,
Na ilusão de uma pepita.
Largam mulheres, filhos, famílias,
E vão comer de marmita.
Deixam o verde, ar puro e natureza,
No seio de suas terras,
Aqui comem poeira e bebem barro
Tirados da própria Serra.
Muitos morrem sem mesmo achar o ouro.
Outros tantos vivem anos
Até chorar na dor arrependidos,
De um dia serem ufanos.
Outros acidentados e infelizes
Porque hoje são paralíticos,
E ainda um grande número de tristes
Porque são hoje raquíticos.
IV
Hoje é dia de garimpo,
É dia de deixar limpo,
Os amuletos da sorte.
Dou brilho nas ferraduras,
E rezando pras alturas
Desafio a própria morte.
Carrego pedra e entulho,
Vendo depois com orgulho
O outro que eu encontrar.
Volto correndo pra casa,
Nos bolsos, dinheiro vaza,
Vaza, vaza... Sem parar.
Aqui não tem natureza,
Muitos sonhos de riqueza
É o que tu encontras aqui,
Poeira pra todo lado,
Homem com dente dourado,
Quando um deles te sorri.
A noite aqui é sombria,
Ao soprar da ventania,
Vem poeira e também medo.
Se eu encontro o pó dourado,
Posso, à noite, ser roubado,
Se não guardá-lo em segredo.
De dia, o sol escaldante,
Nessa cratera gigante,
Deita seus raios ferventes.
Entre um gole e outro d’água,
Punge o peito em dura mágoa,
Na saudade dos parentes.
Sou garimpeiro, sou forte,
Desafio a própria morte,
Aqui na Serra Pelada.
Com vinte e quatro quilates,
Mercedes, Mansões e iates,
E a patroa é conquistada.
V
O céu já dourando ao sol do poente
Avisa ao garimpo que o dia acabou
De alma cansada e corpo doente
O bom garimpeiro mais rico ficou.
Poeira nos olhos e barro no rosto
Mas bem escondido seu sonho dourado.
Caindo a noitinha, o sol já está posto,
E o bom garimpeiro foi recompensado.
Milhares de vidas retiram seus corpos,
Da imensa cratera que ali se formou,
Imundo qual fosse um chiqueiro de porcos
O grande garimpo mais fundo ficou.
De dia — um inferno; à noite — sem vida.
No entanto escondido nos bolsos do chão,
O áureo motivo de tanta corrida
O áureo motivo de tanta ilusão.
À noite, na esteira, rezando um Pai Nosso,
O bom garimpeiro agradece ao Senhor,
“Meu pai, sou bom filho, pois faço o que posso
Pra ter nos meus lábios palavras de amor.”
“Senhor, agradeço esta luz tão bendita
Que hoje perdoa o mal que causei
Também agradeço por essa pepita
Que suja de lama no barro encontrei.”
A paz ora reina no inferno dourado,
Cessando na imensa cratera os trabalhos,
Medonho silêncio vislumbra pasmado
Que o grande garimpo foi feito em retalhos.
Exausto, na esteira, dormindo ao luar,
Depois de ingerida uma boa cachaça,
O ouro nos sonhos começa a brilhar,
Pois sonhos não custam... são sempre de graça...
Dorme, garimpeiro! Dorme...
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