30 de janeiro de 2006

Quando um homem, de repente,Desavisado, inocente,Ao ver um simples vestido,Já pensa em se apaixonar.E quando esse mesmo homem,Ainda desavisado,Escreve, em versos, calado,Um poema ao tal vestido,E assim através da noite,À luz da sua inocência,Pensando no tal vestido,O homem revela, puro,Toda beleza que o encerra.Então ele diz à noite,Que ele é assim — coloridoQue ele é terno, é o preferido,Que tem um quê de malíciaNas cores do seu tecido.Esse homem, porém, não sabeO erro que cometeu,Não sabe a bem...

28 de janeiro de 2006

Estrela que risca o céu, Em noite de negro véu, Por sobre os que estão ao léu, Povoados de ilusão; Brilha em total plenitude, Qual notas de um alaúde, Espalhando-se em virtude Nos hinos de uma canção; Doce estrela peregrina Que pareces pequenina Ante a presença divina Em negro véu da amplidão; Meu nauta do céu escuro, Eu cá de cima do muro, Fitando o teu rastro puro No negro da imensidão, Penso em contar-te um segredo, Não digo, pois tenho medo, Quando apontar-te o meu dedo, Verás em meu coração... É...
Este que chamam o dia,O Dia dos Namorados,Não é de fato meu dia,... É dia dos namorados.Assim como a luz do dia,Eterna, ilumina os prados,A qualquer hora do dia,Há juras de namorados,No entanto, meu caro amigo,Procura essa namorada...E, então, pensarás contigo:— Procuro e não acho nada.Bem vês, meu fiel amigo,Eu não tenho namorada.Dizes agora contigo:— Por que não tens namorada?É que os valores da vida,Respondo, meu caro amigo,Estão assim, deturpados,E a dor é demais sentidaNo Dia dos Namorados.Podem...

24 de janeiro de 2006

Sei que passas nesta ruaNas manhãs ensolaradas,Sei que olhas neste muroAs frases aqui riscadas.Amanhã quando passaresTu terás grande surpresa.De lápis-cera riscadoTu verás o teu recadoEm versos aqui no muro.Então de uma vez por todasTu saberás meu segredo.E até que o muro desabeToda vez que aqui passaresEm disfarçados olharesTu lembrarás que a teu ladoAlém de um sincero amigoTem alguém apaixonad...
Rasguei uma página em minha vida,Rasguei, com olhos molhados,Cerrei-os a uma paixão desmedida,De corpo e de alma lavados. Dias a fio, vi-me padecendo,Meu Deus teve compaixão,Seu filho, pálido, estava gemendo,De dor no seu coração. Agora, meu amor! Tenho piedade,Em ti, a chama não vejo,Murchou em mim a flor da mocidade,Não mais pedirei teu beijo. A primavera minha adormeceu,As pétalas despencaram,O meu pesar o inverno conheceu,E meus lábios ressecaram, Oh! Deus meu! Não roguei que fosse assim,Roguei...
Meu verso é fogo, é brasa incandescente,Vapor lascivo em cândido perfume,Vazão da dor que o próprio artista sente. Meu verso é topo, é da montanha o cume,Desponta à vida em frases convertido,Levando à prosa as dores do ciúme. É anjo de minh’alma concebido,Menino ingênuo em colo recostado,Único filho em leito adormecido, Segredo antigo às folhas revelado,Meu verso é brilho, é pedra preciosa,Rubi por mãos de artista lapidado. É do jardim a flor mais melindrosaDos colibris o beijo mais fagueiro,Beleza...
Na manhã de quarta-feira, Do mês de agosto, a primeira, Partiria o trem caipira. Sete vagões engatados, Todos sete enfumaçados, Rumo à estação de Itabira. Cheguei cedinho à estação, Sem disfarçar a emoção, De viajar nesse trenzinho: ... Quero rever as Campinas, As montanhas pequeninas, Tudo bem devagarinho. Quero passar junto aos rios, Sentir no corpo arrepios, Quando o trem subir a serra, Sentir no frescor da brisa, Que beijar minha camisa, O cheiro da minha terra. Quero ver gado pastando, Cavalo...
I Raiar do dia neste imenso vale, Onde as crateras que escavadas são Guardam segredos de infinitos sonhos, No barro sujo que recobre o chão. O sol aos poucos vai dourando o vale, Que em pouco tempo já estará fervendo, Legiões de homens, como barros, sujos, Pelas escadas estarão descendo. Começa, então, o formigueiro humano, Milhares deles escavando a terra, Outros milhares carregando sacos Cheios de pedras vão dar nome à Serra. Febris do ouro vão gastando as forças, E toneladas de barrenta...
Cheguei bem perto, junto de um madeiro,À sombra deste — rosas espalhadas.Nos ares um perfume virginal,Essência que encharcava as mãos cerradasDe menina. Era um anjo na flor da juventudeQue aos céus na tenra idade regressou.Alvo lírio que à vida despontavaFlor bendita que um dia Deus chamouDe menina. Cheguei mais perto, ergui a fronte aos céus,Na terra, meu joelho recostava,Junto ao peito as mãos frias, mas unidas,Naquela triste manhã eu rezava.Assim, menina: “Senhor, meu Deus! Um anjo vos procura,Bem...
Eu me lembro, eu me lembro...Em meados de dezembroUm menino conheci.Eu ainda era criançaQuando brilhou a esperançaNo então menino que vi. Deixei de ser pequeninoMas meu amigo meninoNão deixou de ser criança.E todo mês de dezembro,Em seus olhinhos, me lembro,Brilhava a luz da esperança. Sim, na noite de Natal,De Belém vinha um sinalAo som de um sagrado hino.Uma estrela me diziaQue se chamava Maria,E que era mãe do menino. Então, num clarão divino,O meu amigo meninoSurgia em forma de luz.Todo de...
Há muito tempo venho te buscando,E, na busca, não tenho te encontrado,Sou teimoso, por isso estou cansado,E assim, continuarei te procurando. Estou exausto, há muito estou andandoE não te encontro à minha caminhada.Já não durmo e durante a madrugada,Acordado, contigo estou sonhando. Mas ai quem busca debalde e insistenteO teu aroma, e ver-te de verdade,Deve buscar-te cautelosamente, Pois teu esconderijo, por vaidade,É, muitas vezes, bem na nossa frente,E nós não vemos tu — Felicidad...
“Quando, certa manhã, Gregório Samsa despertou,depois de um sono intranqüilo, achou-se em suacama convertido em um monstruoso inseto...”Franz Kafka Algo caminha sobre as minhas costas.Essa filha do esgoto, putrefata,Nojento bicho que, de pata em pata,Sai do meu dorso e vai subir nas bostas.Aberração da natureza — crostasCobrem teu ventre da sujeira exata.Miserável inseto — és a barata,A imunda criatura em minhas costas. Este inseto cascudo e pavorosoÉ, sem dúvida, a inveja incontrolávelQue, na...
Beijei teus lábios, ontem, à noitinha,E, qual não foi minha surpresa, quando,Ao tempo em que estava te beijando,Flagrei-me olhando fixo tua boquinha. Estranha dúvida, essa coisa minha,De estar assim, secretamente olhando, Como um ladrão astuto, ali, roubandoToda beleza que tua boca tinha.Quero, agora, pagar por ter roubadoEssa beleza rara que eu persigo.E assim, detido, depois de julgado, Já não representando mais perigo,Ler a sentença em que eu for condenadoPara sempre a morrer de amor contig...
Fito, à noite, um pequeno vaga-lume,Que, bailando ao frescor da madrugada,Como a luz que desponta na alvorada,Cintila alegre no total negrume.Embora eu saiba quão pequeno é o lume,Fito em silêncio, e, sem dizer-lhe nada,Ali, na placidez desesperada,Paro e medito à luz que se resume: “Se tão pequeno inseto, calmamente,Na noite escura e tenebrosa, trilhaUm caminho de luz fosforescente, Eu, humilde, ao ver esta maravilha,Não consigo entender por que, descrente,A luz da humanidade inda não brilha!...
Procurei no dicionário,Com paciência e cuidado,O real significadoDa palavra aniversário.Aquele livro pesado, Mestre dos visionários,"Pai dos burros" batizado,Pareceu-me sectário,Ao responder meu chamado.Deveras decepcionado,Joguei o meu dicionárioNa estante, empoeirado,Para pregar, solitário,O meu significadoDa palavra aniversário.Diz assim, o verbete lendário,Ontem, por mim criado:"Aniversário: Espécie de relicário,Muitíssimo bem guardadoNas folhas do meu diário,Dos versos que eu escrevi,Com todo...
alea jacta est!you should get some rest...não sou essa pesteque pensam que sou.a poesia que me vestebrota bruta à revelia.e se ofende e modifica,redime e condena,transforma e glorifica,de norte a sul,de Leste a oeste.alea jacta est!you should get some rest...não sou essa pesteque pensam que sousou apenas um poeta....

3 de janeiro de 2006

Moro a poucos metros do quintal de Pixinguinha,Respiro samba, logo ali, depois da linha,Onde o "Cacique" vem sorrindo me abraçar.Choro quando um sambista se esquece da Leopoldina,Mas que pecado não lembrar dessa menina,Campeã de tantos carnavais.A essa gente ingrata e também desinformada,Distante, certamente, de uma boa batucada,Dou me perdão com este samba.Sagrada Leopoldina!Quem vê tuas esquinas reconhece és imortal;Respeitem o teu manto verde e branco, por favor,Sagrado pavilhão do carnaval.E...

2 de janeiro de 2006

No dia em que minha mãe me pediuUm anel de presente,Eu não sabia, Eu não sabia, ( Bis )Minha mãe era Rainha do Mar.E assim no mar azul mergulhei,Na casa de minha mãe descansei,Mas meu anel se foi no mar,E eu comecei a chorar,Comecei a chorar.Mas tudo passou dali pra melhorE aquilo que parecia o piorEra o amor de minha mãe.E eu comecei a cantar,Comecei a cantar.E se hoje canto com firmeza: É a Rainha do mar. ...

1 de janeiro de 2006

O Soneto surgiu no início do século XIII, na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II, a exemplo das tradicionais baladas provençais. Atribuído por alguns a Jacopo da Lentini, o Soneto tornou-se mais conhecido depois de aperfeiçoado por Francesco Petrarca. Nada disso era de meu conhecimento quando resolvi escrever poesias no final dos anos 80. Descobri a literatura quando cursava o Ensino Médio no Colégio Pedro II. Na época, assombrei-me diante da poesia fundo-de-poço dos poetas ultra-românticos,...