27 de maio de 2009
24 de maio de 2009
11:46
Carlos Eduardo Drummond
“Entreteias” chegou às minhas mãos em folhas avulsas de papel reciclado, sem o acabamento visual elaborado pelas editoras. A agitação do dia-a-dia me obrigou a deixá-lo sobre a mesa da sala por duas semanas, ainda que o nome da obra tenha despertado em mim um interesse que me corroeu por todo esse tempo.
A leitura de um livro começa pelo título. É a partir dele que o imaginário do leitor vai ser moldado. O neologismo aqui presente sugere de modo fulminante a atmosfera moderna em que o leitor está prestes a penetrar. A suspeita inicial é confirmada logo nos primeiros “cantos”, em que o autor assume uma postura filosófica, reflexiva, ao longo de versos brancos, dispostos sem o rigor formal tão característico da poesia clássica.
Na temática também é assim, por isso não espere encontrar aqui poemas de amor dilacerante, paixões arrebatadoras, confissões de um “eu” lírico escancarado. Não é esse o propósito do livro. Para mim, que tenho a sorte de manter os olhos e a mente no século XXI e o coração no século XIX, foi uma grata surpresa essa constatação, o que me causou uma estranheza só denunciada pelos olhos de quem vê o novo pela primeira vez.
O poeta Diego Braga não escreve poesia popular, não redige aquele verso que se compreende na primeira leitura; produz, antes de tudo, um texto desafiador, instigante, que exige do leitor o raciocínio, o cuidado, a reflexão. Esse traço revela, na intuição de minha sensibilidade, o grande mérito do livro. A poesia dele, elaborada dessa forma, se apresenta a maior parte do tempo exalando o aroma fresco da vanguarda.
Em seu estro, ele usa e abusa de recursos lingüísticos que visam, sem qualquer prepotência, reinventar a língua, esmiúça-la, virá-la do avesso até, se necessário for, só para traduzir o sentimento preciso, muitas vezes descrevendo a “aparência” do abstrato, como se fosse um exercício literário desafiador e complexo.
O jogo de palavras, a antítese, o anagrama, a influência de Fernando Pessoa e dos gregos, o neologismo de James Joyce e Guimarães Rosa, a poesia visual, herança concreta dos irmãos Campos e Décio Pignatari, a natureza, os Deuses, o tudo e o nada, o muito e o pouco, desfilam nas páginas desse livro, cuja leitura me deixou convicto, nas palavras do próprio autor, de que “tudo é um deixar de ser outra coisa”.
Carlos Eduardo Drummond
Poeta e escritor
A leitura de um livro começa pelo título. É a partir dele que o imaginário do leitor vai ser moldado. O neologismo aqui presente sugere de modo fulminante a atmosfera moderna em que o leitor está prestes a penetrar. A suspeita inicial é confirmada logo nos primeiros “cantos”, em que o autor assume uma postura filosófica, reflexiva, ao longo de versos brancos, dispostos sem o rigor formal tão característico da poesia clássica.
Na temática também é assim, por isso não espere encontrar aqui poemas de amor dilacerante, paixões arrebatadoras, confissões de um “eu” lírico escancarado. Não é esse o propósito do livro. Para mim, que tenho a sorte de manter os olhos e a mente no século XXI e o coração no século XIX, foi uma grata surpresa essa constatação, o que me causou uma estranheza só denunciada pelos olhos de quem vê o novo pela primeira vez.
O poeta Diego Braga não escreve poesia popular, não redige aquele verso que se compreende na primeira leitura; produz, antes de tudo, um texto desafiador, instigante, que exige do leitor o raciocínio, o cuidado, a reflexão. Esse traço revela, na intuição de minha sensibilidade, o grande mérito do livro. A poesia dele, elaborada dessa forma, se apresenta a maior parte do tempo exalando o aroma fresco da vanguarda.
Em seu estro, ele usa e abusa de recursos lingüísticos que visam, sem qualquer prepotência, reinventar a língua, esmiúça-la, virá-la do avesso até, se necessário for, só para traduzir o sentimento preciso, muitas vezes descrevendo a “aparência” do abstrato, como se fosse um exercício literário desafiador e complexo.
O jogo de palavras, a antítese, o anagrama, a influência de Fernando Pessoa e dos gregos, o neologismo de James Joyce e Guimarães Rosa, a poesia visual, herança concreta dos irmãos Campos e Décio Pignatari, a natureza, os Deuses, o tudo e o nada, o muito e o pouco, desfilam nas páginas desse livro, cuja leitura me deixou convicto, nas palavras do próprio autor, de que “tudo é um deixar de ser outra coisa”.
Carlos Eduardo Drummond
Poeta e escritor
23 de maio de 2009
13:34
Carlos Eduardo Drummond
Na janela do quarto da menina
Não havia cortina.
A luz da Lua entrava sem bater,
E a menina brilhava de frio.
Na janela do quarto da menina
Não havia cortina...
O Sol chegava de mansinho,
Como quem carrega uma culpa qualquer.
Nem a Lua, nem o Sol,
Nem a brisa da madrugada...
Não havia quem soubesse
Cuidar daquela menina...
Entrei, um dia, no quarto da menina sem cortina.
Não vi a luz da Lua, não vi a luz do Sol,
Nem a brisa tocou minha pele.
Não havia cortina no quarto da menina.
Entrei ali sem bater, como fez a luz da Lua,
Até cheguei de mansinho, como fez a luz do Sol.
E a menina que andava triste naquela tarde vazia
Conhecia um visitante que da janela não vinha.
No dia seguinte, voltei...
Entrei sem bater novamente,
Entrei de mansinho outra vez...
Levei comigo o desejo de amar e uma cortina.
Não pedi nada em troca.
Meu desejo se calou,
Meu amor renasceu,
E a cortina cobriu, enfim, a janela do quarto da menina.
Carlos Eduardo Drummond
Não havia cortina.
A luz da Lua entrava sem bater,
E a menina brilhava de frio.
Na janela do quarto da menina
Não havia cortina...
O Sol chegava de mansinho,
Como quem carrega uma culpa qualquer.
Nem a Lua, nem o Sol,
Nem a brisa da madrugada...
Não havia quem soubesse
Cuidar daquela menina...
Entrei, um dia, no quarto da menina sem cortina.
Não vi a luz da Lua, não vi a luz do Sol,
Nem a brisa tocou minha pele.
Não havia cortina no quarto da menina.
Entrei ali sem bater, como fez a luz da Lua,
Até cheguei de mansinho, como fez a luz do Sol.
E a menina que andava triste naquela tarde vazia
Conhecia um visitante que da janela não vinha.
No dia seguinte, voltei...
Entrei sem bater novamente,
Entrei de mansinho outra vez...
Levei comigo o desejo de amar e uma cortina.
Não pedi nada em troca.
Meu desejo se calou,
Meu amor renasceu,
E a cortina cobriu, enfim, a janela do quarto da menina.
Carlos Eduardo Drummond
13:30
Carlos Eduardo Drummond
Não sou ator de cinema,
Mas escrevo o poema
Que traduz o sentimento mais puro e concreto...
Não sou agente secreto,
Mas sou discreto, pois falo de amor
Como quem salva o mundo sem ser notado...
Não tenho arma nem “dublê”,
Mas tenho você...
E posso enviar-lhe uma rosa...
Naquela manhã chuvosa em que eu não puder lhe ver...
Sou aquele que lhe quer bem,
Sou o que lhe deseja sorte também...
Sou, no fundo, o “herói comum”,
Com o dom de saber amar,
Sem precisar dizer a ninguém...
Carlos Eduardo Drummond
Mas escrevo o poema
Que traduz o sentimento mais puro e concreto...
Não sou agente secreto,
Mas sou discreto, pois falo de amor
Como quem salva o mundo sem ser notado...
Não tenho arma nem “dublê”,
Mas tenho você...
E posso enviar-lhe uma rosa...
Naquela manhã chuvosa em que eu não puder lhe ver...
Sou aquele que lhe quer bem,
Sou o que lhe deseja sorte também...
Sou, no fundo, o “herói comum”,
Com o dom de saber amar,
Sem precisar dizer a ninguém...
Carlos Eduardo Drummond
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